Hoje...

Hoje, eu não tenho nada a dizer,
Também não tenho nada a escrever,
Talvez uma rosa na mão
Para oferecer a minha vida
Talvez isso,
Por que a vida foi boa,
Talvez isso,
Por que o dia foi bom,
Eu não sei,
Mas se tivesse algo a dizer hoje,
Talvez eu fosse chorar,
Mas não choro,
Isso por que o dia foi bom,
Isso por que a vida foi boa,
E eu sei
Que hoje,
Eu não acordei á toa
E que a vida não é tão ruim assim,
Para eu chorar,
Para eu pensar que é o fim,
Até onde eu sei,
Tenho muito à levar na minha vida,
Hoje, ontem, amanhã
Dez anos atrás
Dez anos à frente,
Tudo é tão permanente,
Que até dá medo de se deslocar,
Nada muda d'agua para o vinho,
Tudo acontece lentamente,
Tão imperceptível,
Quanto a peste latente,
Nas veias, no sangue
Do próprio doente
Eu até que não percebo,
Como meus ossos e minha pele
Se esticou tanto nestes últimos dez anos,
Acho que fui eu que durmi,
Ou foi por eu estar no palco e não no camarote
Que não me dei conta da comédia, ou tragédia
Que eu encenava,
Lentamente, e como eu encenava!
Vivi tudo tão intensamente,
Que até deu gosto de ver,
O que poderia ter sido uma tragédia para mim,
Se tornou tragédia para você,
Segui minha vida como se deve viver,
Fazendo uma comédia,
Que não se cansa de viver.